Neste episódio final...
1 - A nacionalização foi "um embuste" e um completo desastre. Aumentou desmesuradamente o buraco financeiro, por acumulação de dívidas, quebra de liquidez, perda de clientes, desvalorização dos ativos imobiliários... A CGD administrou o BPN durante 4 anos, sendo, na prática, um banco concorrente. Foi de tal modo o desastre que, a certa altura, Cavaco Silva apontou o dedo à CGD e sua gestão, mencionando a acumulação de funções dos administradores e concluindo com um enigmático "... não me parece uma coisa assim muito normal". Claro que ganhar 140% de valorização de ações em apenas dois anos e meio, num total de cerca de 350 mil euros, também não é muito normal, mesmo nada normal, mas isso Cavaco Silva nunca apresentou como algo de desconfiar. Adiante.
2 - Quando se deu a nacionalização, era previsível quase tudo o que se passou e nomeadamente a crise aguda de liquidez devido à transferência de dinheiro para a CGD e não só. Ainda assim, apesar dessa crise de liquidez, o BPN continuou a fazer empréstimos de milhões, a empresas e particulares, verbas quase todas por devolver até hoje.
3 - A reprivatização acabou com a venda do BPN por 40 milhões, ao BIC, ficando a parte dos incumprimentos para o Estado. Entretanto, um dos administradores, Rui Pedras, passou do BPN para o BIC. O universo BPN foi partido em três partes: a Parvalorem ficou com a gestão bancária; a Parups com os ativos imobiliários; a Parparticipadas, com o universo de empresas que já eram do BPN antes da nacionalização. Tudo o que implica prejuízo... ficou para os contribuintes pagarem, que é como quem diz... para o Estado.
4 - Há dívidas inacreditáveis. A título de exemplo (e não é sequer das piores), Joaquim Coimbra, membro da comissão de honra de Cavaco Silva, destacado membro do PSD, etc, deve mais de 50 milhões, quando o banco foi vendido por 40!!!
5 - Ninguém do Ministério das Finanças aceitou falar com a SIC, durante a investigação.
6 - Com a reprivatização, cerca de 500 funcionários foram para a rua. A reportagem termina com um deles a afirmar que "há culpados mas ninguém os vai buscar", que a grande parte dos desonestos continuam a trabalhar noutras instituições, tiveram novamente tudo o que tinham antes, continuam a ganhar principescamente
Entretanto, o julgamento de alguns dos implicados começou. A fazer fé nas notícias de hoje mesmo, se continuar ao ritmo atual, temos processo para mais de 50 anos. Tudo isto para, no final, apanharem penas suspensas.
Alguém disse recentemente que a melhor maneira de assaltar um banco é administrá-lo. Querem prova mais evidente do que o caso BPN?!...
Termino com as perguntas já tantas vezes repetidas:
Como é possível que isto se tenha passado, num País dito democrático, com supervisores para todos os gostos?
Como é possível muitos dos culpados continuarem a trabalhar, sem nada lhes acontecer, noutras instituições?
Quem é assim tão importante que consegue mexer os cordelinhos, empatar, reter... de modo a que o tempo passe, passe, passe e nada aconteça?
Como é possível que estejamos, quase todos, mergulhados numa crise que está a ser gerida, entre outros, por quem lhe deu origem?
Outra das notícias do dia é, também, que a banca ganhou no ano que passou, mais de mil milhões de euros com a aquisição de dívida pública Portuguesa. Quem perdeu esses mil milhões? Os contribuintes. Quem ganhou os mil milhões? Alguns dos responsáveis pela própria crise.
Se isto não é a loucura total, então o que é?!...